Inteligência artificial no contencioso: o que é viável, permitido e aplicável hoje

Imagem que retrata de forma abstrata a inteligência artificial

Introdução

A adoção da Inteligência Artificial (IA) no setor jurídico tem ganhado relevância exponencial, especialmente no contencioso, um dos ramos mais operacionais e analíticos da prática legal. Nesse cenário, escritórios de advocacia e departamentos jurídicos buscam formas de tornar suas rotinas mais eficientes, confiáveis e estratégicas.

 

Este artigo se propõe a abordar, de maneira técnica, educativa e isenta de caráter promocional, como a IA pode ser aplicada hoje na prática contenciosa. Quais são as ferramentas disponíveis? Quais práticas são juridicamente permitidas? Onde estão os limites éticos, legais e regulatórios? E como garantir a conformidade com marcos como a LGPD e o Código de Ética da OAB? Essas são algumas das perguntas que vamos responder ao longo do texto.

 

O que é Inteligência Artificial?

 

1.1 Conceito Geral

Inteligência Artificial é um campo da ciência da computação voltado ao desenvolvimento de sistemas capazes de executar tarefas normalmente atribuídas à inteligência humana. Essas tarefas incluem percepção de linguagem, raciocínio lógico, aprendizagem com base em dados e tomada de decisão automatizada.

 

1.2 Tipos de IA Aplicáveis ao Direito

  • IA simbólica: baseada em regras e lógica programada.
  • IA estatística (machine learning): aprende a partir de dados, identificando padrões.
  • Processamento de linguagem natural (NLP): voltado à interpretação e geração de textos.

1.3 IA Generativa vs IA Analítica

  • IA analítica: usada para análise de padrões e tendências.
  • IA generativa: usada para gerar linguagem textual, como minutas jurídicas (sempre com revisão humana obrigatória).

 

Onde a IA já atua no contencioso?

 

2.1 Classificação e triagem de documentos

Ferramentas de IA organizam automaticamente petições, decisões e contratos com base em palavras-chave, contexto e modelos jurídicos.

2.2 Jurimetria e predição de resultados

Soluções de análise estatística de jurisprudência são capazes de identificar padrões de julgamento e tendências decisórias de tribunais e juízes.

2.3 Geração de documentos jurídicos

Sistemas de IA podem gerar esboços de petições, pareceres e comunicações a partir de modelos existentes, sempre com validação humana.

2.4 Monitoramento e alertas processuais

A IA automatiza o acompanhamento de andamentos e intimações, gerando alertas e encaminhando fluxos internos automaticamente.

 

Benefícios diretos da IA no contencioso

 

3.1 Eficiência operacional

Redução do tempo em tarefas repetitivas.

3.2 Redução de erros

Automação reduz falhas humanas e padroniza processos.

3.3 Agilidade na resposta

Sistemas otimizam prazos e evitam perdas de prazo.

3.4 Inteligência estratégica

Análises de dados melhoram a previsão de risco e a priorização de processos.

 

Limites jurídicos e éticos

 

4.1 Responsabilidade profissional

O advogado segue responsável por todos os atos praticados, mesmo com suporte da IA.

4.2 Conformidade com a LGPD

Toda automação deve observar a proteção de dados pessoais e sensíveis, garantindo segurança, transparência e bases legais adequadas.

4.3 Explicabilidade e viés algorítmico

Modelos devem ser auditáveis. É preciso combater vieses que podem ser herdados de bases de dados imperfeitas ou enviesadas.

4.4 Transparência com o cliente

O uso de IA deve ser transparente com os clientes. Recomenda-se cláusulas contratuais específicas sobre automações utilizadas.

 

Boas práticas observadas no mercado

 

Em vez de citar casos reais, é possível observar boas práticas em ambientes corporativos e jurídicos que adotam a IA de forma responsável. Essas práticas envolvem:

  • Implantação gradual da tecnologia, por meio de provas de conceito (PoCs);
  • Revisão constante dos resultados gerados por sistemas automatizados;
  • Integração com a governança de dados e a gestão da informação;
  • Formação contínua das equipes jurídicas sobre os limites legais e técnicos da IA;
  • Participação ativa de advogados em decisões relacionadas à escolha e treinamento dos modelos de IA utilizados.

Esses elementos, quando combinados, resultam em maior segurança jurídica, eficiência operacional e aderência ética ao utilizar inteligência artificial no contencioso.

 

O que é juridicamente permitido hoje?

  • Geração de minutas jurídicas com revisão profissional.
  • Análises preditivas para apoio estratégico, não como decisão final.
  • Classificação e triagem de documentos automatizados.
  • Monitoramento processual com alertas.
  • Adoção de IA apenas com auditoria e validação.

A ausência de uma regulamentação específica exige aderência estrita aos princípios éticos e legais da advocacia.

 

Como implementar IA de forma segura e eficaz?

 

7.1 Avaliação de maturidade tecnológica

Antes da implementação, avalia-se estrutura, cultura digital, volume e tipologia dos dados.

7.2 Escolha das ferramentas certas

É importante considerar segurança, explicabilidade, aderência à LGPD e suporte técnico.

7.3 Provas de conceito (PoCs)

Implementações controladas permitem testar a IA sem comprometer áreas críticas.

7.4 Acompanhamento por KPIs

Indicadores como tempo médio de resposta, redução de erros e satisfação interna ajudam a medir o sucesso da IA.

7.5 Equipes multidisciplinares

Advogados, cientistas de dados, desenvolvedores e especialistas em compliance devem trabalhar juntos.

 

O futuro da IA no contencioso

  • Regulamentação específica: o Brasil deve seguir a tendência global de regular IA com enfoque em ética, segurança e explicabilidade.
  • Interoperabilidade com tribunais: sistemas judiciais mais abertos à automação e integração.
  • IA assistiva e consultiva: modelos que ajudem na construção de estratégias e revisão textual com maior profundidade sem tomar decisões autônomas.

 

 

Conclusão

A inteligência artificial está transformando o contencioso jurídico, com benefícios concretos e riscos que exigem controle, revisão e conformidade rigorosa. Escritórios e departamentos jurídicos que desejam implementar essa tecnologia devem fazê-lo com responsabilidade, ética e apoio técnico especializado.

No SBC Law, compreendemos a IA como ferramenta de apoio estratégico — não como substituta da análise crítica jurídica. O futuro será cada vez mais híbrido, unindo tecnologia e conhecimento humano.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *